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GERAL Quarta-feira, 02 de Julho de 2025, 08:56 - A | A

Quarta-feira, 02 de Julho de 2025, 08h:56 - A | A

ARTIGO

Beleza como política de saúde mental

Cíntia Procópio

Tem dias que a gente não se sente bem com o espelho. E não é apenas sobre a imagem refletida, mas sobre o que ela nos provoca por dentro. A dermatologia, que por muito tempo foi vista como um campo voltado apenas à pele e suas doenças, vem passando por uma transformação silenciosa e necessária. Aos poucos, começamos a entender que cuidar da aparência também é uma forma legítima de cuidar da saúde mental.

É claro que vaidade por vaidade não resolve nada. A busca vazia pela perfeição, essa que nunca chega, pode ser até mais destrutiva do que qualquer mancha ou ruga. Mas existe um espaço entre o excesso e o descuido, e é nesse lugar que a dermatologia consciente pode se tornar uma grande aliada da autoestima. Não é sobre apagar traços, e sim sobre restaurar conexões. Com o corpo, com o tempo, com a nossa história.

Quando uma paciente me diz que se sente invisível depois dos 50, não estou apenas diante de uma queixa estética. Estou diante de um pedido de escuta. Quando uma adolescente chega tomada pela acne e vergonha, o que está em jogo não é só a inflamação da pele, mas o medo de não ser aceita. E é aí que entra a delicadeza do nosso ofício: perceber que cada queixa estética pode esconder uma dor emocional que não se resolve com ácido ou laser.

Falar de beleza como política de saúde mental é reconhecer que há um impacto real entre sentir-se bem com a própria imagem e a forma como enfrentamos a vida. Isso não significa colocar a estética no centro de tudo, mas sim entender que ela é parte da construção do nosso bem-estar, especialmente para quem vive em um mundo que ainda julga, rotula e exige padrões inalcançáveis.

É possível sim usar a medicina estética com responsabilidade, ética e afeto. É possível indicar um procedimento não porque a pele “precisa melhorar”, mas porque aquela mulher quer voltar a se reconhecer no espelho. E isso, para mim, é mais do que vaidade. É dignidade. É cuidado integral.

Que a gente normalize, cada vez mais, a beleza como ferramenta de acolhimento e não de imposição. E que sejamos capazes de tratar a pele sem esquecer que, por trás dela, há sempre uma história e alguém querendo se sentir viva de novo.

Cíntia Procópio é dermatologista, especialista em rejuvenescimento com naturalidade.


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