O ex-superintendente do Bic Banco – instituição financeira que faria parte de um esquema de crimes contra o sistema financeiro que movimentou R$ 500 milhões -, Luiz Carlos Cuzziol, revelou que até 30 empresas também fariam parte das fraudes, investigadas na operação “Ararath”. De acordo com informações, o ex-superintendente disse em audiência na Justiça Federal que recebeu uma lista “de 20 ou 30 empresas” que foram beneficiadas com empréstimos fraudulentos do banco.
A pessoa que teria repassado o rol de organizações que fariam parte do esquema é o ex-secretário de Fazenda, Eder de Moraes. Segundo Cuzziol, o ex-secretário de Estado representaria os interesses do ex-governador Blairo Maggi. “O senhor Eder Moraes, após a reunião lá em São Paulo, o presidente havia conversado com o superintendente da época, o Eder iria procurar ele lá, na época era o Antonio Eduardo, e tinha um desenho, uma relação de empresas que iriam operar com o banco. Ficou acertado também, tinha uma pessoa na matriz do banco, um funcionário, que ia fazer a estrutura das operações, a garantia. De que forma iria se operar”, diz trecho do depoimento.
Após a conversa com os representantes do Bic Banco, a lista de organizações com informações das empresas foi repassada aos gerentes da instituição financeira. “Nesse intermédio, o Eder esteve no banco, sentou com o Antonio Eduardo, que era o superintendente, e após a saída do Eder o superintendente chamou os gerentes, e falou: ‘estou com uma relação aqui’. Não sei se era 20 ou 30 empresas. Empresa, telefone, contato, CNPJ e valores. Valores que ia ser operacionalizado com essas empresas”, revelou Cuzziol.
O ex-superintendente também apontou a “fragilidade” dos garantias dadas pelas empresas que tomavam os empréstimos, informando que os valores já eram “pré-determinados”. “Tinha contratos, mas o banco não se dava muita ao luxo de ficar analisando esses contratos. Já tinha um valor pré-determinado para ser operacionalizado dentro do banco, dentro daquela relação, independente do crédito, se tinha para receber realmente ou não, se o contrato estava vigente ou não. Não teve esse critério”, contou o ex-superintendente.
As investigações do MPF revelam que as empresas que tomavam empréstimos davam como garantia crédito fictícios (dívidas ou outros benefícios financeiros inexistentes) com o Governo do Estado.
MAGGI
Segundo os depoimentos de colaboração premiada do ex-superintendente, o ex-governador Blairo Maggi teve um papel crucial nos esquemas investigados da operação “Ararath”. Luiz Carlos Cuzziol revelou que a “reputação” de Blairo Maggi – um empresário bilionário do agronegócio, e que ocupava o cargo de governador de Mato Grosso na época -, teria viabilizado o esquema fraudulento.
As garantias dos empréstimos tomados pelas empresas – que tinham faturamento anual entre R$ 200 mil e R$ 2 milhões ao ano -, também eram fundadas sobre o “prestígio” de Blairo Maggi, personificada na figura de seu representante nas negociações junto a instituição financeira (Eder de Moraes). “Essas operações seriam liquidadas pelo governo. Não iria ter prejuízo porque o governador assumiria o compromisso com o banco. Era para atender as necessidades do governo, solicitadas pelo Eder [...] O governador da época [Blairo Maggi] tinha uma credibilidade muito grande no mercado”, apontou Cuzziol.
Segundo Cuzziol, os recursos movimentados no banco correspondiam a 70% dos ativos da instituição – entre R$ 400 e R$ 500 milhões. “Passou de R$ 300 milhões. Aconteceu o seguinte. O número de Operações, uma liquidando a outra. Uma liquidando a outra. Ou fazia uma nova para liquidar a vencida. Então ela teve um giro grande. Mas o montante, eu estou falando isso porque a agência nossa, ela chegou ao máximo de ter de ativo R$ 400 milhões. R$ 400, R$ 500 milhões”.