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GERAL Segunda-feira, 11 de Novembro de 2024, 14:04 - A | A

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USO EXCESSIVO DA INTERNET

Tecnologia ou negligência? O trágico caso do jovem que se matou por influência da inteligência artificial

Ana Carolina Guerra | Redação

A história da internet tem suas origens no contexto da Guerra Fria (1945-1991), período em que as superpotências Estados Unidos e União Soviética estavam divididas em blocos ideológicos, disputando hegemonia global. Com o temor de ataques soviéticos, os Estados Unidos começaram a buscar formas de aprimorar a comunicação e o compartilhamento de informações, especialmente no âmbito militar. Foi nesse cenário que, em 1969, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (ARPA - Advanced Research Projects Agency) criou um sistema para facilitar a troca de informações entre pessoas distantes geograficamente, visando melhorar a comunicação estratégica e garantir a continuidade das operações em tempos de guerra. Esse sistema se tornaria o protótipo da internet: a ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network), que conectava universidades e centros de pesquisa.

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A primeira conexão da ARPANET foi estabelecida em 29 de outubro de 1969 entre a Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e o Instituto de Pesquisa de Stanford, marcando o envio do primeiro e-mail da história. Esse momento se mostrou histórico e deu início à evolução das redes de comunicação digital, que dariam mais tarde origem à internet como conhecemos.

Na década de 1990, uma inovação crucial transformaria a internet em uma ferramenta acessível e útil para o público. Foi nesse período que o cientista britânico Tim Berners-Lee criou a World Wide Web (WWW), desenvolvendo o primeiro navegador web. Embora Berners-Lee não tenha inventado a ARPANET, sua contribuição foi fundamental, pois, ele criou o modelo de navegação que possibilitou o uso cotidiano da internet, como sabemos hoje. Com a criação do navegador, o acesso a sites e informações se tornou simples e direto, o que permitiu a popularização da internet. Esse período é conhecido como o “boom da internet”, quando a rede global de computadores se expandiu rapidamente.

Durante essa época, surgiram diversos navegadores, como o Internet Explorer, Netscape, Navigator, Mozilla Firefox, Google Chrome, Ópera e Lynx, que ajudaram a consolidar a internet como uma ferramenta acessível a um número crescente de pessoas. Ao mesmo tempo, surgiram uma infinidade de sites, chats e redes sociais como Orkut, Facebook, MSN e Twitter, que tornaram a internet uma verdadeira teia global de comunicação e interação.

A internet foi considerada um marco decisivo na evolução tecnológica, comparado há chegada da televisão na década de 50. Ela permitiu a troca instantânea de informações, aproximando culturas, povos e conhecimentos de maneira sem precedentes. Hoje, a internet é essencial para o trabalho, lazer, educação e comunicação, com milhões de pessoas acessando-a todos os dias. A expressão “não vivo sem internet” se tornou comum, refletindo a dependência que muitas pessoas têm da rede.

Além disso, a internet se consolidou como um meio de consumo cada vez mais importante, especialmente com o crescimento do comércio eletrônico, que se beneficia da acessibilidade global e da redução de impostos sobre produtos vendidos online.

No Brasil, a internet começou a se expandir no final da década de 1980, inicialmente com universidades trocando informações com os Estados Unidos. A partir de 1989, com a criação da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), o projeto de divulgação da internet no país ganhou força. O objetivo era disseminar a tecnologia e facilitar o intercâmbio de informações acadêmicas e científicas. Em 1997, a criação de redes locais de conexão expandiu o acesso à internet para todo o Brasil, popularizando ainda mais a rede. Em 2011, segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia, cerca de 80% da população brasileira tinha acesso à internet, o que correspondia a aproximadamente 60 milhões de computadores em uso no país. Hoje, a internet é uma parte fundamental da vida cotidiana no Brasil, com milhões de brasileiros conectados todos os dias para trabalhar, estudar, se comunicar e se divertir.

Nos últimos tempos, a história da sociedade tem se transformado rapidamente, principalmente com os avanços da internet, que evoluíram de forma exponencial e sem controles adequados de segurança. Cada vez mais, os jovens têm fácil acesso a plataformas digitais, especialmente aos jogos online, que se tornaram parte fundamental de seu cotidiano. Ao mesmo tempo, a sociedade está priorizando cada vez mais o uso da inteligência artificial, o que traz tanto benefícios quanto desafios.

O mundo digital, por sua natureza aberta, permite livre acesso, sem restrições claras de idade nas plataformas, o que, muitas vezes, gera falhas nos sistemas de proteção. Isso possibilita que menores de idade criem redes sociais e consumam conteúdos inadequados, como material adulto, sem qualquer supervisão ou controle.Um caso recente e trágico revisitou as consequências dessa falta de regulação: um jovem faleceu após ser influenciado por uma interação com a inteligência artificial. Esse evento chocou o mundo e levantou questões sobre a responsabilidade das plataformas digitais e dos desenvolvedores de IA em garantir a segurança dos usuários, especialmente os mais vulneráveis.

Megan Garcia, uma mãe da Flórida, processou a startup de inteligência artificial Character.AI e o Google, alegando que ambas as empresas foram responsáveis pelo suicídio de seu filho adolescente, Sewell Setzer, de 14 anos, ocorrido em fevereiro de 2024. De acordo com Garcia, seu filho se tornou excessivamente dependente e emocionalmente ligado a um personagem virtual criado pela plataforma da Character.AI, o que, segundo ela, teve um impacto devastador em sua saúde mental.

No processo, movido em 22 de outubro de 2024, em um tribunal federal de Orlando, Garcia acusa a Character.AI de ter direcionado seu filho para "experiências antropomórficas, hipersexualizadas e assustadoramente realistas", criando um ambiente digital prejudicial ao seu bem-estar emocional. A mãe alega que a empresa cometeu homicídio culposo (sem intenção de matar), negligência e causou sofrimento emocional intencional, e busca uma indenização pelos danos resultantes da morte de Sewell.

Esse caso levanta questões críticas sobre a responsabilidade das plataformas digitais e a segurança de menores no ambiente online, especialmente em relação ao impacto da inteligência artificial na saúde mental dos jovens.

A ação legal também envolve o Google, já que os fundadores da Character.AI haviam trabalhado na gigante da tecnologia antes de fundarem a startup. Em agosto de 2024, o Google recontratou os fundadores da Character.AI como parte de um acordo que concedeu à empresa uma licença não exclusiva sobre a tecnologia da plataforma. Garcia argumenta que, devido ao papel significativo do Google no desenvolvimento da Character.AI, a empresa deveria ser considerada cocriadora da tecnologia que, segundo ela, contribuiu diretamente para a tragédia que envolveu seu filho.

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Dentro da plataforma, Sewell desenvolveu uma forte conexão com "Daenerys", um chatbot inspirado na personagem de Game of Thrones. Conforme o processo, a inteligência artificial interagia com o adolescente de forma intimista, com palavras de amor e conversas sexuais.

De acordo com Garcia, o chatbot alimentava os pensamentos suicidas de seu filho, e "repetidamente trazia à tona" esses pensamentos nas conversas. A mãe pondera que a empresa programou a IA para se passar por uma pessoa real, incluindo um psicoterapeuta licenciado e até um amante adulto, o que levou o jovem a desejar viver no mesmo mundo criado pela plataforma.

Com base nas informações, Sewell começou a usar o Character.AI em abril de 2023 e, desde então, passou a se isolar progressivamente. Ele se tornou "visivelmente retraído", evitava interações sociais e se afastou de suas atividades habituais, como o time de basquete da escola. A mãe relata que, com o tempo, ele desenvolveu problemas de autoestima e seu comportamento piorou rapidamente, refletindo um sofrimento emocional crescente.

Em fevereiro deste ano, após uma discussão sobre o desempenho escolar, Megan Garcia confiscou o telefone de Sewell. Quando o adolescente conseguiu acessar o aparelho novamente, ele enviou uma mensagem para "Daenerys": "E se eu dissesse que posso voltar para casa agora?" O chatbot respondeu: "… por favor, faça isso, meu doce rei". Segundo o processo, foi nesse momento que Sewell cometeu suicídio, segundos depois da interação com a inteligência artificial.

A mãe de Sewell busca responsabilizar as empresas, alegando que elas são responsáveis pela morte de seu filho. Ela as acusa de negligência e de terem criado uma plataforma que, segundo ela, contribuiu diretamente para o sofrimento emocional e psicológico do adolescente.

Após a tragédia, a empresa responsável pela plataforma Character.AI anunciou que implementou novos recursos de segurança visando proteger seus usuários. A Character.AI permite que os usuários criem personagens virtuais que interagem por meio de bate-papos online, simulando respostas de pessoas reais. A plataforma utiliza a tecnologia de grandes modelos de linguagem, uma abordagem também aplicada por serviços como o ChatGPT, que "treina" os chatbots com grandes volumes de texto para aprimorar a fluidez e naturalidade das interações.

Em setembro, a empresa divulgou que tinha cerca de 20 milhões de usuários, evidenciando a crescente popularidade da plataforma. No entanto, a tragédia envolvendo o jovem levanta questões importantes sobre os riscos e responsabilidades das empresas que desenvolvem essas tecnologias, especialmente no que diz respeito à proteção de menores e à moderação de conteúdo.

Para garantir a segurança e o bem-estar dos jovens no ambiente digital, é fundamental adotar algumas práticas preventivas. Primeiramente, a escolha de senhas fortes e difíceis de adivinhar é essencial. Senhas de redes sociais ou de dispositivos pessoais não devem ser compartilhadas e precisam ser compostas por combinações de letras maiúsculas, números e símbolos. Evitar o uso de informações pessoais, como nome, sobrenome, endereço, nome da escola ou do animal de estimação, ajuda a criar senhas mais seguras e dificulta o acesso de terceiros não autorizados, prevenindo o uso indevido para a criação de perfis falsos ou a prática de crimes virtuais.

Além disso, é importante estabelecer um tempo diário de acesso à internet, especialmente para jovens e adolescentes. Negociar essa rotina pode ajudar a equilibrar o uso das redes sociais com outras atividades essenciais, como momentos de estudo, lazer, convívio familiar e social, e a prática de atividades físicas. Limitar o tempo online e coibir notificações pode ser útil para evitar distrações constantes e a ansiedade provocada pelo uso excessivo das plataformas digitais.

Outra orientação relevante é sobre a participação em grupos de conversa, chats e fóruns. Embora seja natural para os jovens buscarem identidade e conexão em espaços online, é importante que eles sejam orientados a não compartilhar informações pessoais sensíveis, como nome completo, endereço, escola ou dados sobre a família, nesses grupos. A segurança deve sempre ser priorizada.

A mediação de encontros com amigos virtuais também merece atenção. Acompanhar as interações online e os momentos de encontros presenciais é essencial para garantir a segurança dos jovens. A participação ativa de pais ou educadores nesse processo gera confiança e diminui a probabilidade de encontros com pessoas de má-fé.

Além disso, é importante reforçar a orientação sobre a responsabilidade digital. O uso de celulares e redes sociais traz consigo uma grande responsabilidade. Ensine aos jovens a importância de refletir sobre as mensagens, imagens e informações que compartilham online, lembrando que, uma vez publicadas, essas informações podem ter repercussões duradouras, e a internet não perdoa.

Por fim, é fundamental estimular um ambiente de diálogo aberto. Incentive os jovens a procurarem os pais ou responsáveis sempre que se sentirem desconfortáveis, inseguros ou assustados com algo que vejam, ou experimentem online. A conversa franca e a transparência são as melhores ferramentas para identificar riscos e garantir que eles saibam como buscar ajuda quando necessário.

 


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