Os quatro oficiais da Polícia Militar, alvos da operação “Coverage” - dois tenentes-coronéis (Sadá Ribeiro Parreira e Marcos Eduardo Paccola), e outros dois tenentes (Cleber de Souza Ferreira e Thiago Satiro Albino) -, podem estar envolvidos num desvio de “pistolas israelenses” e “centenas de munições de calibres diversos”. A informação consta de um procedimento investigatório criminal (PIC), do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), que deflagrou a operação “Coverage”.
As diligências fazem parte da 3ª Fase da operação “Mercenários”, de 2016, que desnudou a atuação do grupo de extermínio que tinha “cobertura” (daí o nome Coverage) dos oficiais PMs presos na última quarta-feira.
Um dos indícios de atuação dos quatro oficiais PMs é a mudança de registro de uma pistola 9mm, da marca Glock.
Uma exame balístico, realizado pela Politec, constatou que a arma de fogo está associada a pelo menos um crime de homicídio. O tenente PM Cleber de Souza Ferreira possui o registro de autorização de carga pessoal da referida pistola Glock.
As investigações do Gaeco também apontam que um inquérito policial militar (IPM) foi instaurado para investigar o caso. O tenente PM Cleber de Souza Ferreira foi flagrado num áudio dizendo que se o IPM não tivesse ainda voltado ao Ministério Público do Estado (MPE-MT), ele realizaria a “troca” do certificado de registro da pistola Glock – o que configura obstrução à Justiça.
A intenção dos policiais era alterar os dados de registro da Glock, no referido IPM, utilizando um outro IPM. Esta última investigação, de acordo com o Gaeco, é relativa a uma ocorrência da Rotam do dia 29 de setembro de 2017, em Várzea Grande, na Região Metropolitana.
“Segundo o relatório técnico, a data de 29 de setembro de 2017 indicada pelo investigado 2º Tem PM Cleber de Souza Ferreira como sendo a data de uma ocorrência realizada pela Rotam, estranhamente, coincide com uma ação realizada pelo Batalhão de Rondas Ostensivas Táticos Metropolitanas – Rotam no Bairro Figueirinha em Várzea Grande/MT, que deu azo a apreensão de diversas armas que estariam na posse do suspeito Emerson Rodrigo da Silva”, diz trecho dos autos.
Segundo o Gaeco, o referido IPM, que seria utilizado na substituição, refere-se justamente ao “sumiço” de armas e de “centenas de munições”. “Em interrogatório, Emerson Rodrigo da Silva, afirmou que os policiais da Rotam não teriam apresentado todas as armas apreendidas no momento da ação policial. Segundo o suspeito, diversas armas deixaram de ser apresentadas na Delegacia, sugerindo que os agentes teriam subtraído pistolas israelenses, pistolas da marca Glock, pistola CZ, bem como centenas de munições de calibres diversos”, relata o Gaeco.
O Gaeco não dá mais detalhes sobre o número de armas e munições desviadas.
Dos 4 mandados de prisão cumpridos na última quarta-feira pelo Gaeco, apenas dois foram cumprido. O tenente-coronel PM Marcos Eduardo Paccola foi beneficiado com um habeas corpus preventivo. Já o tenente PM Cleber de Souza Ferreira já se encontrava preso por suspeita de fazer parte de um esquema, que também contou com a ajuda de outros policiais, e que “facilitou” a entrada de um freezer com 86 aparelhos de telefone celular na Penitenciária Central do Estado (PCE), em junho deste ano.