“Pegaram ele e jogaram dentro da viatura. Levaram para o hospital, mas ele já estava morto” , relata um vizinho do haitiano Roger Laine, 48, morto por um policial, na terça-feira (10). O homem tinha problemas psiquiátricos e estava em crise quando a polícia tentou contê-lo. Na ação, ele esfaqueou um militar e foi morto a tiros.
A reportagem do esteve no local para tentar falar com a viúva do estrangeiro, mas ele não estava na casa. Vizinhos disseram que ela não voltou ao lar desde que o marido morreu.
Um morador da área ocupada pelos estrangeiros, na região do bairro Novo Paraíso 2, disse à reportagem que conhece a vítima há muito tempo, desde quando moravam na Casa do Migrante. Naquela época, ele já tinha sido diagnosticado com transporto mental e teve uma crise no abrigo, mas foi contido e não sofreu mais surtos.
“Ele nunca deu problema para ninguém, estava indo à igreja sempre. Morava aqui com a esposa e era amigo de todo mundo”, relata o homem que não quis se identificar por medo de retaliações.
Eles frequentam a Igreja Batista do bairro Planalto e no domingo (8), Roger foi ao templo e se trancou no quarto ao voltar para casa. O vizinho contou que a esposa havia comentado que no domingo ainda tentou chamar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas não foi atendida.
“Eu tentei falar com ele. Outro vizinho tentou também. A gente ficava na janela perguntando se ele estava bem, mas não arrombamos a porta. A gente esperou para ver se ele saía, mas ele continuou”, conta o homem ao pé da janela onde o amigo estava trancado.
Na segunda-feira (9), a esposa ligou de novo para o Samu, pois estava preocupada com o marido. Ela contou que ele estava em crise e o socorrista disse que iriam ao local, mas com o apoio da Polícia Militar.
Quando o Samu chegou com a polícia, os vizinhos já se aglomeravam no local na expectativa do desfecho daquele caso.
“Não foi nem 5 minutos. Os 3 policiais chegaram na viatura e arrombaram a porta. Um deles tentou falar com ele (Roger) e pediu a faca, mas ele não deu. Um pessoa em crise fica descontrolada, mas o policial tentou agarrar ele”, lembra o vizinho que gesticula como tudo ocorreu, enquanto detalha o episódio.
No momento em que o agente tentou conter a vítima, ela reagiu e o esfaqueou no rosto, na cabeça e no braço. Diante da conduta do estrangeiro, outro militar atirou no homem, dentro da casa em que residia.
“Ele não poderia ter agarrado ele daquele jeito. Depois que atirou, os policiais arrastaram ele, jogaram na viatura e levaram para o hospital. Ele já estava morto quando”, detalha.
Após o homicídio, a Corregedoria da PM informou que está acompanhando o caso e vai investigar se houve desvio de conduta.
O vizinho conta que Roger Laine morava com a esposa na casa. Ele deixa 6 filhos, mas todos moram no Haiti e a vítima mandava dinheiro do Brasil para ajudar no sustento dos herdeiros.
Milhares de imigrantes haitianos vieram para o Brasil após terremotos que destruíram seu país. Sem nada além da vontade reconstruir a vida, eles chagaram a Cuiabá, montaram associações e se uniram em comunidades de haitianos que se apoiam para sobreviver no exterior.
O local onde Roger foi morto concentra centenas de casas feitas com materiais que conseguiram comprar. A poeira vermelha, os canos de água e a fiação clandestinas compõe o cenário do “bairro” fundado pelos haitianos, onde os terrenos são separados apenas por fios de arame farpado e unidos pela vontade de sobrevier no país estranho.