O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes afirmou nessa segunda-feira (7) que sentiu "pena das instituições brasileiras" quando soube que o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot planejou assassiná-lo com tiros, em 2017. Ele também recomendou tratamento psiquiátrico ao ex-PGR.
"Quando a gente imagina que agora a Procuradoria estaria entregue em mãos de alguém que pensava num faroeste ou coisa do tipo, isso realmente choca e dá pena de ver como que nós degradamos as instituições, [como] se fizeram escolhas tão desastradas", afirmou durante o programa Roda Viva, da TV Cultura.
O relato sobre o plano para matar Gilmar foi feito pelo ex-procurador-geral em entrevistas aos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S.Paulo e à revista Veja. Janot também fala do assunto em seu livro, lançado esta semana, mas sem detalhar o episódio. Segundo ele, o rompante ocorreu por causa de uma posição do ministro em relação à sua filha, Letícia Ladeira Monteiro de Barros.
Na época, o então procurador-geral havia apresentado um exceção de suspeição contra Gilmar na análise do habeas corpus do empresário Eike Batista, argumentando que a mulher do ministro, Gilmar Mendes, era funcionária do escritório que defendia Eike na ação.
Em ofício enviado à então presidente da Corte, ministra Carmen Lúcia, Gilmar se defendeu do pedido de Janot e afirmou que Leticia Ladeira advogava para uma empresa envolvida na Lava Jato – a OAS – em processos no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Na entrevista de ontem, Gilmar Mendes também defendeu a atuação do Supremo em relação ao caso. Após Janot revelar que teria entrado na Corte com a intenção de matar o magistrado, o STF determinou uma série de medidas contra o ex-PGR, que perdeu o porte de arma e foi proibido de chegar perto de ministros do Supremo ou do tribunal.
STF reage a Janot
Segundo Gilmar, esse tipo de resposta está previsto no regimento da Corte. "Se houvesse alguma dúvida sobre este inquérito, este caso caia integralmente com a hipótese que está no regimento interno", afirmou.
O ministro afirmou que não adiantaria ter enviado a investigação contra Janot ao Ministério Público. "O CNMP [Conselho Nacional do Ministério Público], até esses dias, não fazia nada com os membros do Ministério Público, tanto que o Dallagnol faz o que faz", afirmou, em referência ao coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol.
De acordo com ele, o MP assumiu "feições soberanas"."Se nós tivéssemos encaminhado ao Ministério Público o que você imaginaria que teria acontecido? Você já viu algum resultado de alguma investigação em relação a membros do Ministério Público?", disse.
Lula em prisão domiciliar
O ministro do STF afirmou que o ex-presidente Lula não tem o direito de negar a progressão de pena. "Ele não tem esse direito. Acredito que aqui há um pouco o recurso de uma retórica ", disse.
Em seguida, Gilmar afirmou que o fato de os procuradores oferecerem o regime semiaberto ao ex-presidente foi algo que lhe "chamou a atenção". "Nunca foram legalistas, nunca foram garantistas. Mas agora se convenceram. Se convenceram porque era conveniente. Aliviaram a pressão que existe sobre o tempo, fazendo leitura de estrelas", comentou.