O delegado da Polícia Federal Carlos Henrique Cotta D’Angelo afirmou que os alvos da operação Tapiraguaia – cuja 2ª fase foi deflagrada na manhã desta quinta-feira (22) – não têm qualquer tipo de escrúpulos quando se trata de desviar recursos públicos.
Entre os alvos da ação, estão o ex-deputado federal Valtenir Pereira (MDB) e o ex- prefeito de Confresa, Gaspar Lazari.
À frente das investigações, o delegado lembrou que a primeira fase da operação – desbaratada em janeiro deste ano – revelou desvios de verbas federais que seriam usadas para compra de merenda para escolas de Mato Grosso e também em obras da Saúde.
Já a segunda fase detectou fraudes e desvios em licitações para pontes em municípios do interior do Estado.
Esses indivíduos quando entram de má-fé ocupando cargos na administração pública não tem predileção por recursos a serem desviados, quer seja municipal, estadual, federal. A ideia é se locupletar de tudo que esteja disponível
“Esses indivíduos quando entram de má-fé ocupando cargos na administração pública não têm predileção por recursos a serem desviados, quer seja municipal, estadual, federal. A ideia é se locupletar de tudo que esteja disponível”, disse o delegado, em coletiva de imprensa nesta manhã.
“Gostaríamos de dizer que é um caso particular, que é um caso que nos chama atenção, mas infelizmente não é. É mais um caso da realidade nacional. Eles roubam o que dá para roubar”, acrescentou Carlos Henrique.
O delegado não descartou a possibilidade de novas fases desta operação serem deflagradas.
“O que se focou num primeiro momento eram recursos destinados a outras áreas, inclusive a da educação. Em razão daquela primeira etapa, chega-se hoje a desvio de recursos de infraestrutura. Infelizmente é o retrato do Brasil. E, obviamente, que pode sim haver desdobramentos”, disse.
Segundo o delegado, ainda não há um montante exato dos recursos desviados nesta segunda fase da operação.
“O fato é que milhões foram carreados para pagamento de obras e a conclusão delas inexiste. Agora, temos que fazer uma apuração disso também e quem tem esse papel especial é a CGU – órgão de auditoria”, afirmou.
“Eles vão apontar o verdadeiro montante do dinheiro desviado para que essas pessoas possam responder e, eventualmente, ressarcir os cofres públicos”, concluiu Carlos Henrique.
O esquema
Conforme a Polícia Federal, o ex-deputado Valtenir Pereira (MDB), no período entre 2014 a 2016, teria montado um esquema em conluio com empresários e prefeitos de Confresa e Serra Nova Dourada. Segundo a PF, cerca de R$ 601 mil teriam sido utilizados para pagamento de propina.
As investigações mostram que o então deputado teria viabilizado a realização de convênios entre o Ministério da Integração Nacional e as prefeituras, amparando-se na justificativa de construção de pontes de concreto emergenciais, devido às enchentes provocadas pelas chuvas.
Os prefeitos, beneficiados com os recursos federais, realizariam licitações supostamente irregularidades, combinando previamente com os empresários contratados para a execução das obras.
Conforme a PF, os políticos exigiam propinas a essas pessoas, na medida em que fossem realizados os pagamentos.
A PF ainda aponta que os valores utilizados nas propinas provinham na maioria das vezes de medições fraudulentas, como atestados de serviços não realizados ou realizados a menor.
Os montantes seriam repassados aos gestores municipais e ao ex-deputado, por meio de depósitos/transferências em contas de terceiros.
As obras da Prefeitura de Confresa teriam gerado em torno de R$ 413 mil em propinas aos agentes públicos envolvidos, enquanto as de Serra Nova Dourada o montante de R$ 187 mil.