O assunto educação financeira ganhou bastante relevância nos últimos anos. Diversos agentes da sociedade, de empresas ao governo, têm se debruçado na questão. Até mesmo os bancos costumam tentar forjar preocupação a respeito do tema em suas propagandas institucionais. Mas o que se percebe é que muito se fala, mas pouco se faz para desenvolver políticas eficazes que incentivem a criação de uma relação saudável do brasileiro com o dinheiro.
E olhando de forma retrospectiva, a história da educação financeira no nosso país trilhou um caminho único de oferecer dicas de investimento voltado para aqueles já prósperos. E quem está endividado? A quem essas pessoas podem recorrer? Certamente não ao gerente do banco que foi treinado em método ninja para atender os interesses da instituição em que trabalha. Ele não é um consultor financeiro pessoal e sim um vendedor e, como tal, trabalha e é recompensado a partir de metas a serem alcançadas. É aquela velha história do cara que entra no banco para pedir um empréstimo e sai de lá com um seguro de vida, um título de capitalização, uma previdência privada, etc. Nem sabe direito para onde esse dinheiro está indo, quanto está rendendo de fato, e não raro acaba se enrolando e tendo que se desfazer dos produtos.
Uma pesquisa realizada pelo Standard & Poor’s indicou que o Brasil ocupa a 74ª posição no ranking global que avalia sobre alfabetização da população em educação financeira, ficando atrás de alguns dos países mais pobres do mundo, como o Zimbábue. Este quadro revela um grande desafio que a gente enfrenta: entender mais a fundo a forma com que o brasileiro se relaciona com o dinheiro e tornar acessível para a população o conhecimento sobre conceitos essenciais para uma melhor administração das finanças pessoais.
A educação financeira nas escolas nunca foi uma prioridade e os tímidos avanços que tivemos não são suficientes para enfrentar a questão. Desde o início desse ano ela passou a ser obrigatório para crianças do ensino infantil e fundamental. Mas de uma maneira transversal e não como disciplina, ou seja, aparece num trabalho de matemática ou ciências, numa palestra, num tema de redação, num debate em sala de aula.
É muito pouco se levarmos em consideração que o Brasil é o terceiro pior país em competência financeira de jovens segundo o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), que avaliou 20 países pertencentes à OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Ficamos à frente apenas do Peru, Geórgia e Indonésia. A estatística do Mato Grosso ajuda a empurrar para baixo a performance nacional. Somos o oitavo pior estado em aprendizagem escolar sobre educação financeira. Estamos atrás do Acre, Alagoas, Bahia, Amazonas e tantos outros. Um alerta máximo para nossas escolas.
Não podemos deixar de levar em consideração que historicamente tivemos mais de meio século de instabilidade econômica no Brasil. Entre 1940 e 1994, mudamos de moeda oito vezes. A economia era sufocada por uma inflação arrasadora e qualquer tentativa de planejamento financeiro tinha resultados desanimadores. Um cenário onde era bem complicado fazer planos de longo prazo pois o preço de praticamente tudo o que a gente consumia variava durante o dia.
É por isso que se torna tão salutar que a gente ofereça aos nossos jovens um aprendizado sobre esse passado e uma visão sobre o nosso futuro. Credita-se ao filósofo grego Epiteto a frase “só a educação liberta”. Adaptando à realidade que vivemos podemos dizer que só a educação financeira nos dá condições de perceber as informações, entendê-las, avaliá-las e tomar as melhores decisões que nos conduzirão ao bem-estar de longo prazo. A educação é o único caminho para emancipar o homem. Desenvolvimento sem educação é criação de riquezas apenas para alguns privilegiados.
Euclides Ribeiro é advogado especialista em Recuperação de Empresas e Empresários Rurais e candidato ao Senado pelo Avante