A eleição para a presidência da Academia Mato-Grossense de Letras (AML), que ocorreu no último sábado (21), expôs para o público externo um conflito de ideias e político entre os membros da tradicional instituição.
De um lado, estão os membros da chapa “Viva a Casa Barão!”, que resolveram boicotar a votação em protesto contra as regras do pleito. De outro, a “União e Harmonia”, presidida pela jornalista e escritora Sueli Batista, que saiu vencedora.
Composta por nomes como Maria Cristina de Aguiar Campos, Eduardo Mahon, Aclyse de Matos e Lorenzo Falcão, a chapa "Viva a Casa Barão" divulgou uma carta aberta um dia antes da eleição.
No documento, o grupo apontou irregularidades no processo eleitoral. Com isso, decidiu não comparecer à votação como forma de protesto, evidenciando os atritos internos.
“Esse racha sempre existiu. É um racha natural. Agora ficou bastante nítido, visível. Mas faz parte. Não é nada pessoal. A gente quer uma coisa e eles outra”, afirmou Falcão, que também é jornalista.
Uma das queixas é que, para eleições de direção, não é permitido o envio do voto pelos Correios. Outro ponto é que, conforme o estatuto da instituição, as inscrições devem ser feitas na secretaria da AML, porém neste ano foi criada uma comissão eleitoral, que era composta de apenas uma pessoa.
“Por isso decidimos não participar da eleição. Estávamos contando com o bom senso deles [a chapa ganhadora] de não realizar a votação. Mas eles preferiram realizar do mesmo jeito”, expôs Falcão.
Para ele, a academia necessita de renovação e se aproximar mais dos jovens, despertando o interesse pela literatura. E a chapa “Viva a Casa Barão!” representa esse movimento. Em contrapartida, os adversários são definidos por ele como conservadores.
“A academia precisa de oxigenação, precisa ser renovada. O grupo que venceu essa eleição é o mesmo que ficou nos últimos dois anos na direção e não fez absolutamente nada. Eles sequer conseguiram regularizar a situação documental da academia”, criticou Falcão.
A nova presidente Sueli Batista, que ficará à frente do posto pelos próximos dois anos, nega qualquer irregularidade no processo. A jornalista ainda apontou que a atitude dos oponentes se deu a partir do momento em que eles perceberam que não teriam votos suficientes.
“Está sendo colocada uma coisa que não é real. Pessoas que perdem uma eleição, que sabiam que iam perder, e tentaram um boicote, claro. Toda a chapa faltou no dia da eleição. É repúdio? É um movimento para mostrar que está chateado com algo errado? Não houve erro algum”, disse.
“Fizemos a campanha e acho que, na hora de contar os votos, viram que o negócio poderia não ser como eles estavam imaginando. Aí começaram essas rusgas. Mesmo sem os votos pelos Correios, eles perderiam a eleição também”, completou.
A nova presidente da AML afirmou que seguiu corretamente os trâmites do processo eleitoral e, por isso, se exime da responsabilidade pelo “racha” entre os imortais.
“Se criou um racha na academia, eu não sou responsável. A gente não pode deixar as pessoas serem radicais”.
Além de Sueli Batista, a nova direção da AML terá ainda o jornalista José Carrara, o advogado Sebastião Carlos de Carvalho e o músico Moisés Martins.
A reportagem também tentou contato com Sebastião Carlos, mas ele preferiu não polemizar, deixando que Sueli falasse pelo grupo vencedor.
Integrante da chapa "derrotada", o advogado e escritor Eduardo Mahon tentou amenizar a polêmica. Ele avaliou o conflito como positivo e acredita que foi momentâneo, que deve durar apenas neste momento de eleições.
“Eu acho que houve uma divisão em matéria de eleição. Eu francamente espero que essa divisão de eleição não se perdure. Acho que o que aconteceu é um reflexo muito positivo em matéria de movimentação literária”, definiu.