A próxima eleição pode ser histórica em Mato Grosso do Sul. Pela primeira vez, uma representante indígena chega com chances reais de ser eleita a uma cadeira da Assembleia Legislativa. A candidata Val Eloy Terena conta com apoio da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), Conselho Terena, Aty Guasu e tem grande representatividade dentro das aldeias de todo o Estado, que possui a segunda maior população indígena do país, com mais de 80 mil pessoas, conforme dados da Sesai-MS (Secretaria Especial de Saúde Indígena).
Val Eloy tem percorrido as aldeias de Mato Grosso do Sul desde sua pré-campanha, em fevereiro. A partir de agosto intensificou essa caminhada e com isso ganhou apoio considerável dos indígenas sul-mato-grossenses. Além disso, ela é a única candidata pelo Estado do projeto Aldear a Política, onde candidaturas indígenas de todo o país são apoiadas pela APIB para que haja mais representatividade aos povos originários. Ainda tem apoio dos dois grandes conselhos indígenas de Mato Grosso do Sul, o Conselho Terena e o Aty Guasu, dos povos Guarani e Kaiowá.Durante suas visitas às aldeias, Val sempre foi recebida de braços abertos pelos ‘parentes’ e fez questão de ouvir os anseios e demandas de cada família por onde passava, conquistando assim muito apoio de seu povo. “Saí como candidata a deputada por todos os direitos que nós, povos indígenas, estamos perdendo.
‘Aldear a Política’ dá visibilidade para os indígenas, temos várias candidaturas pelo país e temos que ocupar este espaço, pois somente nós sabemos de nossas dores e temos que nos conscientizar em relação a isso”, ressalta.Em seu histórico ela tem a luta dentro do movimento indígena a seu favor. Val é uma mulher terena, mãe e avó, que nascida e criada na aldeia Ipegue, localizada no território indígena Taunay-Ipegue, no município de Aquidauana. Em 2014 liderou uma retomada indígena na periferia de Campo Grande e tornou-se cacique da comunidade Tumuné Kalivono – atual aldeia Ynamati Kaxé, sendo a segunda cacique mulher do Estado. No ano de 2020 concorreu nas eleições municipais da Capital como vice-prefeita.Para a rezadeira Antônia Aparecida, que vive na aldeia Bororo, em Dourados, já passou da hora de uma cadeira da ALMS ser ocupada por um indígena. “Vivemos numa situação muito difícil aqui, por isso ter uma candidata indígena, uma mulher do nosso povo, é um alento. Precisamos ter representatividade no meio político, porque só gente de nossa gente é que vai saber o que sofremos e que vai falar por nós, trazer benefícios para nós. Hoje ninguém faz isso”, afirma.A candidata ainda é vista com bons olhos por políticos de Mato Grosso do Sul.
O ex-prefeito de Aquidauana, Fauzi Suleiman, acredita no potencial de Val Eloy e tem a certeza de que ela está preparada para ser a primeira deputada estadual indígena. “MS tem uma das maiores populações indígenas do Brasil e esses povos não têm nenhuma representação na política estadual, está na hora de mudar isso. Val Eloy é nascida e criada na aldeia Ipegue, onde sua família é um dos troncos da aldeia. Ela está preparada para ser a voz em defesa dos povos indígenas do Estado, lutando pela saúde, pelos direitos dos povos originários, por justiça”, frisa.Mato Grosso do Sul concentra a segunda maior população indígena do país, destacando-se os povos Guarani, Kaiowá, Terena, Kadiwéu, Kinikinau, Ofaié, Guató, Atikum e Kamba.
Cada povo tem sua cultura, língua, organização social e modo próprio de ver e entender o mundo. Apesar disso, eles nunca tiveram um representante no governo a nível estadual e, por conta de uma política que defende o agronegócio, eles cada vez mais vem perdendo suas terras e direitos. “Queremos mudar este cenário, isso que é o projeto Aldear a Política. Estou muito contente com todo o apoio que venho recebendo e chego no domingo com a esperança de ser eleita. Vou fazer a diferença para meu povo dentro da Casa de Leis”, finaliza Val.